“... Ainda que eu falasse a língua dos homens..."

A Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios jamais foi tão moderna, tão contemporânea, como é hoje. Se tomarmos alguns minutos de nosso tempo, e abrirmos o Novo Testamento no décimo terceiro capítulo da Epístola, versículos 1 e 2, encontraremos a seguinte passagem:


“1 Ainda quando eu falasse todas as línguas dos homens e a língua dos próprios anjos, se eu não tiver caridade, serei como o bronze que soa e um címbalo que retine.

2 Ainda quando tivesse o dom de profecia, que penetrasse todos os mistérios, e tivesse perfeita ciência de todas as coisas; ainda quando tivesse toda a fé possível, até o ponto de transportar montanhas, se não tiver caridade, nada sou.”


Desde tempos imemoriais, os homens sonham em falar uma língua comum, aceita internacionalmente. Não é de todo desconhecida a lenda bíblica sobre a Torre de Babel, mencionada no Gênesis 11: 4-9. Charles Berlitz, em seu livro “Native Tongues”, diz que a humanidade tem perseguido esse sonho já por muito tempo. Berlitz fala sobre os Maias, uma civilização que habitou a Península de Iucatán na antiguidade. Esse povo acreditava que, em uma terra longínqua do ocidente – um mundo perdido para eles, viviam homens que falavam uma língua comum.

As lendas chinesas também fazem referência a uma língua comum, falada por todos os homens. Quando aquela língua difundiu-se, mundo afora, sofrendo inúmeras alterações – conta a lenda – o universo mudou de curso e, desgovernado, tomou a direção errada.

Na mitologia persa, um espírito mau dividiu a língua que antes era comum em trinta idiomas diferentes, a partir dos quais originaram-se todas as línguas modernas. De acordo com as lendas gregas e romanas, os súditos de Júpiter, pai de todos os deuses, costumavam falar uma mesma língua. Mercúrio, outro deus romano, dividiu aquela língua comum em uma variedade de dialetos que vieram a se tornar as diversas línguas nacionais atualmente faladas.

A história moderna registra o jugo exercido por diversas línguas por todo o mundo, como forma de dominação. Essas línguas são geralmente impostas pelas nações mais poderosas, em detrimento das línguas nacionais, faladas pelos povos conquistados. A supremacia de uma nação sobre todas as demais e, algumas vezes, o que nos parece um mundo politicamente unificado, facilita a disseminação e reafirma o prestígio da língua dos povos conquistadores em detrimento de todos os demais idiomas existentes. Isso aconteceu com o Latim, com a ascensão do Império Romano; com o Árabe, quando o Islamismo disseminou-se, movido pelas invasões árabes no Ocidente; com o Francês, na época de Napoleão. Acontece hoje com o Inglês, em razão da supremacia política e financeira dos Estados Unidos.

As línguas não são apenas códigos diferentes, utilizados para a comunicação. Elas carregam consigo todas as idiossincrasias, a cultura, a essência de um povo. As línguas refletem os hábitos, as crenças e os preconceitos de uma nação. Por isso, muitas vezes, verifica-se uma resistência, entre os povos ditos dominados, em aceitar passivamente a língua dos conquistadores. É uma resistência sutil ao que se pode chamar de imperialismo lingüístico. De qualquer forma, é fato que há uma real necessidade de comunicação entre os diversos povos. E a forma mais fácil para a comunicação internacional é a adoção de um padrão único de linguagem. Esse padrão é, na maioria das vezes, a língua falada pelos mais poderosos.

Nos últimos duzentos anos, foram feitas várias tentativas de criar uma língua internacional padrão, isenta do ranço imperialista que, na maioria das vezes, carregam as línguas “naturais”, utilizadas na comunicação entre os povos. Infelizmente, essas tentativas não foram bem sucedidas. A maioria dos críticos diz que essas línguas fracassaram porque eram artificiais – não eram línguas vivas, dinâmicas como as naturais. O cerne da fraqueza de todas as línguas artificialmente criadas reside no fato de não estarem imersas em uma cultura realmente verdadeira – elas não possuem “aquela” peculiar característica humana. É por isso que línguas como Kosmos, Monoglottica, Universalsprache, Neo-latine, Veltparl, Idio Neutral, Mundolingue, Dil e Volapük nunca se sobressaíram, inversamente ao que ocorre com a língua inglesa.

De todas essas línguas, o Esperanto tem sido a mais longeva e difundida. Segundo os seus admiradores, existem mais de um milhão de falantes em todo o mundo – a maioria dos quais encontra-se no Brasil e no Japão.

Apesar de todas as tentativas de unificação do mundo por intermédio de uma língua comum, a humanidade ainda não obteve sucesso. Mas há uma razão simples para explicar o insucesso. Retomemos a leitura da Primeira Epístola de Paulo aos Coríntios: ela poderá nos ajudar a compreender por que os homens ainda não estão prontos para falar uma única língua internacional. Paulo quis dizer, em uma interpretação bastante livre de seus escritos, é que os homens ainda falam com suas mentes, e não com seus corações. Mesmo quando conversam entre si, em suas línguas nativas, são incapazes de compreender-se mutuamente! O que nos poderá ajudar nessa difícil tarefa que é a comunicação entre a nossa própria espécie, mais do que uma mudança nas línguas que falamos, é uma mudança em nossas atitudes... mais do que falar, é preciso ouvir.

São Pedro e São Paulo

No dia 29 de Junho, toda a Igreja reúne-se para celebrar o martírio de São Pedro e São Paulo, e que liturgicamente é celebrado no Domingo seguinte ou que antecede. E neste ano é celebrado em toda a Igreja dia 28. Porém, cabe a nós nos perguntarmos: Qual a importância de se Celebrar como solenidade numa única festa o martírio de São Pedro e São Paulo? Primeiramente nos cabe a reflexão sobre a figura dos mártires.

Ora, os mártires são aqueles que ao assumirem e professarem a sua fé, dão como grande prova de amor sua própria vida, em vista da veracidade do anúncio de Cristo. Mas antes mesmo de anunciarem com a sua morte o real sentido da Páscoa de Cristo, é por meio, primeiramente, da vivência diária e gradativa da fé em Cristo por meio das ações, palavras, gestos, comportamentos, pensamento, ou seja, toda a vida. Assim, o mártir é antes de tudo aquele que vive por amor a Deus, e que por meio dessa vivência é capaz de pela graça dar a sua vida como grande prova de amor.

"Ó Roma felix Roma feliz, adornada de púrpura pelo sangue precioso de Príncipes tão excelsos. Tu ultrapassas toda a beleza do mundo, não por teu mérito, mas pelo mérito dos santos que mataste com a espada sangrante". É assim que os canta o hino das segundas Vésperas, que remonta a Paulino de Aquileia (+806). Eis o mérito do martírio de São Pedro e São Paulo: A Igreja celebra a mais viva esperança: A força e o amor do Cristo Ressuscitado! Cristo oferta a sua vida em resgate do seu povo, e São Pedro e São Paulo seguem a voz de Cristo e também se unem a Páscoa de Cristo. Eis a lembrança viva do Ressuscitado:

“O sangue dos mártires não invoca vingança, mas reconcilia. Não se apresenta como acusação, mas como "luz áurea", segundo as palavras do hino das primeiras Vésperas: apresenta-se como força do amor que supera o ódio e a violência, fundando assim uma nova cidade, uma nova comunidade. Em virtude do seu martírio, agora eles Pedro e Paulo fazem parte de Roma: mediante o martírio, também Pedro se tornou cidadão romano para sempre” (BENTO XVI).
A força do martírio, ou seja, seu grande fruto é a confirmação de que é possível vencer o ódio extremo do homem pelo amor divino que nos é dado por Cristo, a cada fiel que é chamado a esta oferta sublime de amor: O MARTÍRIO!

“Eu te darei as chaves do Reino dos céus” (Mt 16, 19). Assim, Nosso Senhor transmitiu as Chaves do Reino a Pedro, que de forma pessoal expressa a universalidade e unidade da Igreja, ao lembrarmos de que Cristo Ressuscitado deu-nos o Espírito Santo como fonte de toda unidade da Igreja. Paulo precisou ir e morrer em Roma. Pedro precisou ir e morrer em Roma. Mas qual o porquê desse desígnio divino a esse respeito? Vejamos como o Papa Bento XVI responde-nos:
“O facto de ter ido a Roma faz parte da universalidade da sua missão como enviado para junto de todos os povos. O caminho para Roma, que já antes da sua viagem externa ele tinha percorrido interiormente com a sua Carta, faz parte integrante da sua trarefa de levar o Evangelho a todos os povos de fundar a Igreja católica universal. O facto de ter ido a Roma é para ele expressão da catolicidade da sua missão. Roma deve tornar visível a fé ao mundo inteiro, deve ser o lugar do encontro na única fé (...). O caminho de são Pedro para Roma, como representante dos povos do mundo, insere-se sobretudo sob a palavra "una": a sua tarefa consiste em criar a unidade da catholica, da Igreja formada por judeus e pagãos, da Igreja de todos os povos. E esta é a missão permanente de Pedro: fazer com que a Igreja nunca se identifique com uma só nação, com uma única cultura nem com um só Estado. Que seja sempre a Igreja de todos. Que reúna a humanidade para além de todas as fronteiras e, no meio das divisões deste mundo, torne presente a paz de Deus e a força reconciliadora do seu amor” (BENTO XVI).

Assim, devemos olhar o martírio de São Pedro e São Paulo como um encontro misterioso que tem como grande fruto a autenticidade da unidade viva da Igreja e da radicalidade evangélica da oferta de vida: que a salvação dada por Cristo deve ser anunciada a todos os povos, a toda a humanidade. Que nessa Solenidade possamos renovar nas nossas vidas a expressão viva da radicalidade evangélica e da universalidade da Igreja.

Ano Sacerdotal 2009 - 2010

A partir do próximo dia 19 até junho de 2009, a Igreja no mundo celebra o Ano Sacerdotal convocado pelo papa Bento XVI. Com o tema “Fidelidade de Cristo, Fidelidade do sacerdote”, a convocação acontece por ocasião do 150º aniversário da morte do padre francês, São João Maria Vianney, hoje padroeiro dos párocos, e a partir do dia 19, proclamado pelo papa, padroeiro dos sacerdotes de todo o mundo.

Para a abertura, no dia 19, está prevista uma celebração, em Roma, presidida pelo papa Bento XVI. Neste dia a Igreja comemora a solenidade do Sagrado Coração de Jesus e Dia de Santificação Sacerdotal.

Ainda no Ano jubilar, será publicado um Diretório para os Confessores e Diretores Espirituais, assim como uma compilação de textos do papa sobre os temas essenciais da vida e da missão sacerdotais na época atual.

Segundo expressou Bento XVI aos membros da Congregação para o Clero, o objetivo deste ano é, “ajudar a perceber cada vez mais a importância do papel e da missão do sacerdote na Igreja e na sociedade contemporânea”.

Como parte das celebrações do Ano Sacerdotal, cerca de 100 sacerdotes, religiosos e religiosas participaram, no dia 6 de maio, no Colégio Pio Brasileiro, em Roma, de uma conferência realizada pelo cardeal prefeito da Congregação para o Clero, dom Cláudio Hummes. O tema do encontro foi “A situação dos Presbíteros no mundo e o Ano Sacerdotal”.

NO BRASIL

A Igreja no Brasil vai celebrar o Ano Sacerdotal de várias formas, com destaque para a série de publicações biográficas de padres que serviram à Igreja: José Antônio Maria Ibiapina, Josimo Tavares, Alberto Antoniazzi,Cícero Romão Batista, Emanuel Gomes González, entre outros.

“É uma oportunidade eficaz para tratarmos da formação do presbítero, seu ministério, e levar o povo brasileiro a conhecer mais de perto o que é a vida sacerdotal. As publicações serão um bom auxílio para divulgar essas figuras exemplares da Igreja”, disse entusiasmado, o secretário geral da CNBB, dom Dimas Lara Barbosa.

O presidente da Comissão Episcopal Pastoral para os Ministérios Ordenados e a Vida Consagrada, da CNBB, dom Esmeraldo Barreto de Farias, afirmou que o Ano Sacerdotal é uma maneira de motivar o estilo de vida do presbítero. “É uma ótima oportunidade para que cada diocese possa contribuir para o aprofundamento e a renovação das motivações na vida de cada presbítero a fim de que possa, com alegria, continuar respondendo, a cada dia, ao chamado de Deus para o seguimento a Jesus Cristo, o bom Pastor, servo missionário, como ministro ordenado em meio à realidade de hoje”.

Padre Reginaldo de Lima, assessor da Comissão, acredita que o Ano Sacerdotal vai proporcionar aos presbíteros a intensificação de sua espiritualidade e ao mesmo tempo recuperar a imagem de figuras emblemáticas do presbitério brasileiro. “Vamos trabalhar para que as biografias de vários padres brasileiros sejam recuperadas. Além disso, o Ano Sacerdotal vai dar ênfase à espiritualidade dos padres.

O SANTO CURA D’ARS

São João Maria Batista Vianney nasceu em Lion, Dardilly, na França, em 8 de maio de 1786. Foi ordenado sacerdote depois de vencer muitas dificuldades, inclusive nos estudos. Considerado o padroeiro dos párocos, o padre ficou mundialmente conhecido por Cura de Ars, por ter dedicado toda sua vida à pequena cidade de Ars, na França. Ali, ele foi um admirável exemplo de vida cristã, exercitou uma eficaz pregação voltada para a mortificação, a oração e a caridade. Maria Vianney faleceu em Ars, com odor de santidade, em 1859, e foi canonizado pelo papa Pio XI em 1º de novembro de 1924. Sua festa litúrgica é comemorada em 4 de agosto, tradicionalmente conhecida pela Igreja como Dia do Padre.

Maria e a Eucaristia


Maria e a Eucaristia: nosso porto seguro
Mensagem do padre Jonas para o mês de maio/2006


Dom Bosco, o santo dos jovens, fundador da Família Salesiana, recebia com freqüência revelações de Deus através de sonhos. Eram verdadeiros sonhos proféticos.

Certa noite, sonhou com um mar tremendamente tempestuoso onde um barco era agitado pelas ondas e cercado de inimigos que o atacavam por todos os lados.

Aproximando a visão, ele pôde ver que naquele barco, além dos tripulantes que lutavam para mantê-lo no meio da borrasca, havia bispos e cardeais e bem na proa do barco estava o papa de pé e de braços abertos.

Em seguida, Dom Bosco percebe que, de repente, surge um vento soprando sobre as velas que a tripulação procura manter estendidas, e conduz aquele grande barco numa determinada direção.

Dom Bosco não tem mais dúvida: aquele barco é o barco da Igreja. Daí ele entendeu também o porquê daquela tempestade e dos inimigos que o atacavam.

Pouco tempo depois percebe que o barco, conduzido por aquele vento (que ele logo entende, é o vento do Espírito Santo), aporta no meio de duas grandes e fortes colunas. Em cima de uma está uma linda imagem de Nossa Senhora, a Auxiliadora dos cristãos, e sobre a outra um enorme ostensório com Jesus presente na Eucaristia.

No momento em que o barco se posiciona entre Maria e a Eucaristia, a tempestade, num instante, se dissipa e os inimigos, que atacavam ferozmente o barco da Igreja, fogem espavoridos e se faz uma grande calmaria.

Existe uma estampa muito linda retratando esse sonho profético que, com Dom Bosco, nós entendemos também.

No ano passado nós tivemos, por escolha do Papa João Paulo II, o ano Eucarístico, tempo de graça maravilhosa para toda a Igreja. Neste ano, justamente no mês de maio, o mês de Maria, temos a graça do 15º Congresso Eucarístico Nacional, realizando-se em Florianópolis, capital de Santa Catarina.

Maria e a Eucaristia são porto seguro para onde o Espírito Santo conduz a sua Igreja. Aí, e somente aí, ela terá vitória, segurança e paz. É para este porto seguro que o Espírito conduz a Igreja do Brasil.

É para aí que o Espírito Santo quer conduzir também a Igreja doméstica que é a sua casa e a sua família. É aí, e somente aí que, nestes tempos tumultuosos de ataque cerrado sobre a família, nós teremos a vitória, a segurança e a paz de que tanto necessitamos.

Maria e a Eucaristia são as duas colunas de guarda e proteção para a igreja doméstica na qual você é responsável e porto de salvação para onde estamos sendo todos conduzidos.

Aí, e somente aí, teremos a vitória, a segurança e a paz. Paz para nossas casas. Vitória certa para as nossas famílias.


Maria e a Eucaristia: o nosso porto seguro.

São João Batista


Infância e educação

Giampietrino. A Virgem Amamentando o Menino e São João Batista Criança em Adoração, c. 1500-20João nasceu numa pequena aldeia chamada Aim Karim, a cerca de seis quilômetros lineares de distância a oeste de Jerusalém.[carece de fontes?] Segundo interpretações do Evangelho de Lucas, era um nazireu de nascimento. Outros documentos defendem que pertencia à facção nazarita da Palestina, integrando-a na puberdade, era considerado, por muitos, um homem consagrado. De acordo com a cronologia neste artigo, João teria nascido no ano 7 a.C.; os historiadores religiosos tendem a aproximar esta data do ano 1º, apontando-a para 2 a.C..

Como era prática ritual entre os judeus, o seu pai Zacarias teria procedido à cerimónia da circuncisão, ao oitavo dia de vida do menino. A sua educação foi grandemente influenciada pelas acções religiosas e pela vida no templo, uma vez que o seu pai era um sacerdote e a sua mãe pertencia a uma sociedade chamada "as filhas de Araão", as quais cumpriam com determinados procedimentos importantes na sociedade religiosa da altura.

Aos 6 anos de idade, de acordo com a educação sistemática judaica, todos os meninos deveriam iniciar a sua aprendizagem "escolar". Em Judá não existia uma escola, pelo que terá sido o seu pai e a sua mãe a ensiná-lo a ler e a escrever, e a instruí-lo nas actividades regulares.

Aos 14 anos há uma mudança no ensino. Os meninos, graduados nas escolas da sinagoga, iniciam um novo ciclo na sua educação. Como não existia uma escola em Judá, os seus pais terão decidido levar João a Engedi (atual Qumram) com o fito de este ser iniciado na educação nazarita.

João terá efectuado os votos de nazarita que incluíam abster-se de bebidas intoxicantes, o deixar o cabelo crescer, e o não tocar nos mortos. As ofertas que faziam parte do ritual foram entregues em frente ao templo de Jerusalém como caracterizava o ritual.

Engedi era a sede ao sul da irmandade nazarita, situava-se perto do Mar Morto e era liderada por um homem, reconhecido, de nome Ebner.


Morte dos pais e início da vida adulta

O pai de João, Zacarias, terá morrido no ano 12 d.C.. João teria 18-19 anos de idade, e terá sido um esforço manter o seu voto de não tocar nos mortos. Com a morte do seu pai, Isabel ficaria dependente de João para o seu sustento. Era normal ser o filho mais velho a sustentar a família com a morte do pai. João seria filho único. Para se poder manter próximo de Engedi e ajudar a sua mãe, eles terão se mudado, de Judá para Hebrom (o deserto da Judeia). Ali João terá iniciado uma vida de pastor, juntando-se às dezenas de grupos ascetas que deambulavam por aquela região, e que se juntavam amigavelmente e conviviam com os nazaritas de Engedi.

Isabel terá morrido no ano 22 d.C. e foi sepultada em Hebrom. João ofereceu todos os seus bens de família à irmandade nazarita e aliviou-se de todas as responsabilidades sociais, iniciando a sua preparação para aquele que se tornou um “objectivo de vida” - pregar aos gentios e admoestar os judeus, anunciando a proximidade de um “Messias” que estabeleceria o “Reino do Céu”.

De acordo com um médico da Antioquia, que residia em Písia, de nome Lucas, João terá iniciado o seu trabalho de pregador no 15º ano do reinado de Tibério. Lucas foi um discípulo de Paulo, e morreu em 90. A sua herança escrita, narrada no "Evangelho segundo São Lucas" e "Actos dos Apóstolos" foram compiladas em acordo com os seus apontamentos dos conhecimentos de Paulo e de algumas testemunhas que ele considerou. Este 15º ano do reinado de Tibério César terá marcado, então, o início da pregação pública de João e a sua angariação de discípulos por toda a Judeia em acordo com o Novo Testamento.

Esta data choca com os acontecimentos cronológicos. O ano 15 do reinado de Tibério ocorreu no ano 29 d.C.. Nesta data, quer João Baptista, quer Jesus teriam provavelmente 36 a 37 anos de idade.
Influência religiosa
É perspectiva comum que a principal influência na vida de João terá sido o registos que lhe chegaram sobre o profeta Elias. Mesmo a sua forma de vestir com peles de animais e o seu método de exortação nos seus discursos públicos, demonstravam uma admiração pelos métodos antepassados do profeta Elias. Foi muitas vezes chamado de “encarnação de Elias” e o Novo Testamento, pelas palavras de Lucas, refere mesmo que existia uma incidência do Espírito de Elias nas acções de João.

O Discurso principal de João era a respeito da vinda do Messias. Grandemente esperado por todos os judeus, o Messias era a fonte de toda as esperanças deste povo em restaurar a sua dignidade como nação independente. Os judeus defendiam a ideia da sua nacionalidade ter iniciado com Abraão, e que esta atingiria o seu ponto culminar com achegada do Messias. João advertia os judeus e convertia gentios, e isto tornou-o amado por uns e desprezado por outros.

Importante notar que João não introduziu o baptismo no conceito judaico, este já era uma cerimónia praticada. A inovação de João terá sido a abertura da cerimónia à conversão dos gentios, causando assim muita polémica.

Numa pequena aldeia de nome “Adão” João pregou a respeito “daquele que viria”, do qual não seria digno nem de apertar as alparcas (as correias das sandálias). Nessa aldeia também, João acusou Herodes e repreendeu-o no seu discurso, por este ter uma ligação com a sua cunhada Herodíades, que era mulher de Filipe, rei da Ituréia e Traconites (irmão de Herodes Antipas I). Esta acusação pública chegou aos ouvidos do tetrarca e valeu-lhe a prisão e a pena capital por decapitação alguns meses mais tarde.


O baptismo de Jesus

Pessoalmente para João, o baptismo de Jesus terá sido o seu auge experiencial. João terá ficado admirado por Jesus se ter proposto para o baptismo. Esta experiência motivou a sua fé e o seu ministério adiante.

João baptizava em Pela, quando Jesus se aproximou, na margem do rio Jordão. A síntese bíblica do acontecimento é resumida, mas denota alguns factores fundamentais no sentimento da experiência de João. Nesta altura João encontrava-se no auge das suas pregações. Teria já entre os 25 e os 30 discípulos e baptizava judeus e gentios arrependidos. Neste tempo os judeus acreditavam que Deus castigava não só os iníquos, mas as suas gerações descendentes. Eles acreditavam que apenas um judeu poderia ser o culpado do castigo de toda a nação. O baptismo para muitos dos judeus não era o resultado de um arrependimento pessoal. O trabalho de João progredia.

Os relatos Bíblicos contam a história da voz que se ouviu, quando João baptizou Jesus, dizendo “este é o Meu filho amado com o qual Me alegro”. Refere que uma pomba esvoaçou sobre os dois personagens dentro do rio, e relacionam essa ave com uma manifestação do Espírito Santo. Este acontecimento sem qualquer repetição histórica tem servido por base a imensas doutrinas religiosas.


Prisão e morte
O aprisionamento de João ocorreu na Pereia, a mando do Rei Herodes Antipas I no 6º mês do ano 26 d.C.. Ele foi levado para a fortaleza de Macaeros (Maqueronte), onde foi mantido por dez meses até ao dia de sua morte. O motivo desse aprisionamento apontava para a liderança de uma revolução. Herodias, por intermédio de sua filha, conseguiu coagir o Rei na morte de João, e a sua cabeça foi-lhe entregue numa bandeja de prata e depois foi queimado em uma fogueira numa das festas palacianas de Herodes.

Os discípulos de João trataram do sepultamento do seu corpo e de anunciar a sua morte ao seu primo Jesus.

Importância para a religião
Cristianismo

Flávio Josefo um historiador do século I relacionou a derrota do exercito de Herodes frente a Aretas IV (Rei da Nabateia) se deveria ao facto da prisão e morte de João Baptista – um homem consagrado que pregava a purificação pelo Baptismo.

Flávio Josefo refere também que o povo se reunia em grande número para ouvir João Baptista, e Herodes temeu que João pudesse liderar uma rebelião, mandando-o prender na prisão de Maqueronte e de seguida matou-o.


Outras religiões
João Baptista é venerado como messias pelo mandeísmo. João Baptista é também considerado pelos muçulmanos como um dos grandes profetas do Islão.

Na Umbanda, religião afro-brasileira, este santo é sincretizado como uma das manifestações do orixá Xangô e é responsável nesta crença, por um agrupamento de espíritos que trabalha com a saúde e o conhecimento, chamada de Linha do Oriente, por congregar além de médicos e cientistas, hindus, muçulmanos e outros povos.


Filosofia religiosa
João era um judeu de educação. Toda a filosofia judaica foi-lhe incutida desde criança. No tempo de João Baptista o povo vivia subjugado à soberania dos chamados gentios havia quase cem anos. A desilusão nacional levantava inúmeras questões a respeito dos ensinamentos de Moisés, do desocupado trono de David e dos pecados da nação.

Era difícil de explicar na religião daquele povo a razão pela qual o trono de David se encontrava vazio. A tendência do povo era justificar os acontecimentos adversos com um provável “pecado nacional”, tal como tinha acontecido anteriormente no cativeiro da Babilónia, e outros mais.

Os judeus acreditavam na previsão de Daniel a respeito do Messias, e consideravam que a chegada desse prometido iniciaria uma nova época – a do Reino do céu. A pregação de João é fortemente influenciada pela antevisão do "Reino dos Céus". E os ouvintes acreditavam que o esperado Messias estaria para chegar e restaurar a soberania do povo que eles definiam como escolhido, e iniciar uma nova época na Terra: a época de justiça.

A pergunta era quando. A fé de todos defendia que seria ainda naquela geração, e João vinha confirmar o credo. A fama da sua pregação era o facto deste pregador ser tão convicto ao anunciar o Messias para breve. Milhares de pessoas, na sua ânsia pela liberdade acreditavam devotamente em João e nas sua admoestações.

Muitos judeus acreditavam que o Reino dos Céus iria ser governado na terra por Deus em via directa. Outros acreditavam que Deus teria um representante – o Messias, que serviria de intermediário entre Deus e os Homens. Os judeus acreditavam que esse reino seria um reino real, e não um reino espiritual como os cristão mais tarde doutrinaram. Foi esse o motivo da negação de Jesus como o Messias, por parte da maioria do povo Judeu.

João pregava que o "Reino de Deus" estaria "ao alcance das mãos" e essa pregação reunia em sua volta centenas de pessoas sedentos de palavras que lhes prometessem que o seu jugo estava próximo do fim.

João escolheu o Vau de Betânia para pregar. Este local de passagem era frequentada por inúmeros viajantes que levavam a mensagem de João a lugares distantes. Isto favoreceu grandemente o espalhar das suas palavras. Quando ele disse "até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão"[1] ele referia-se à 12 pedras que Josué tinha mandado colocar na passagem do rio, simbolizando as doze tribos, na primeira entrada do povo na Terra Prometida.

João era um pregador heróico. Ele falava ao povo expondo os líderes iníquos e as suas transgressões. Quando o assemelhavam a Elias, era porque este tinha o mesmo aspecto rude e admoestador do seu antecessor. João não queria simpatia. Ele pregava a mudança, chamava "raça de víboras" e com o indicador apontado, tal como Elias o tinha feito anteriormente, e isto o categorizou como profeta.

João tinha discípulos. Isto significa que ele ensinava. Ele tinha aprendizes com quem dispensava algum tempo em ensinar. Havia interesse nas suas palavras e filosofia nos seus ensinamentos.

São João Batista Rogai Por Nós!!!!

Celibato nos dias de hoje


De tempos em tempos, a mídia traz como manchete este tema e quase sempre polemizando de forma a confundir as pessoas. O Papa João Paulo II, em sua carta de 1967 intitulada “Celibato Sacerdotal” afirma: “O celibato sacerdotal, que a Igreja guarda desde há séculos como brilhante pedra preciosa, conserva todo o seu valor mesmo nos nossos tempos, caracterizados por transformação profunda na mentalidade e nas estruturas(CS n.1) O que ficou na cabeça de muita gente depois da reportagem no Fantástico, domingo passado, foi de que a Igreja deveria abolir o celibato e assim resolveria todos os problemas. Afinal os sacerdotes são homens e, no mundo atual, é quase impossível viver este testemunho de renúncia e de entrega. O que nós entendemos é diferente.

No Novo Testamento vemos que, “ Jesus escolheu os primeiros ministros da salvação e quis que eles fossem participantes dos mistérios do reino dos céus (Mt 13,11; cf. Mc 4,11; Lc 8,10), cooperadores de Deus a título especialíssimo e seus embaixadores (2Cor 5,20), Jesus que lhes chamou amigos e irmãos (cf. Jo 15,15; 20,17), e se consagrou por eles para que também eles fossem consagrados na verdade (cf. Jo 17,19), prometeu superabundante recompensa a todos quantos abandonem casa, família, mulher e filhos pelo reino de Deus (cf. Lc 18, 29-30). E até recomendou, com palavras densas de mistério e de promessas, uma consagração mais perfeita ainda, ao reino dos céus, com a virgindade, em conseqüência de um dom especial (cf. Mt 19,11-12). A correspondência a este carisma divino tem como motivo o reino dos céus (ibid. v 12); e, do mesmo modo, é neste reino (cf. Lc 18,29-30), no evangelho (Mc 10, 29-30) e no nome de Cristo (Mt 19,29), que se encontram motivados os convites de Jesus às difíceis renúncias apostólicas no sentido duma participação mais íntima na sua própria sorte”(CS 28).


Celibato é dom e carisma, para poder servir mais e melhor. O chamado ao sacerdócio deve ser coroado pela entrega total como pessoa, mas vivido em comunhão com os demais membros do presbitério. O ministro consagrado vive livremente a sua entrega, na solidão fecunda, alimentada na oração pessoal, na Eucaristia, na Palavra e no amor pastoral a todos que encontrar pelo caminho. O Papa, na sua carta, entende o celibato como amor incondicional a Cristo e a sua Igreja. "Conquistado por Cristo Jesus" (Fl 3,12) até ao abandono total de si mesmo a Ele, o sacerdote configura-se mais perfeitamente a Cristo, também no amor com que o eterno Sacerdote amou a Igreja seu Corpo, oferecendo-se inteiramente por ela, para a tornar Esposa sua, gloriosa, santa e imaculada (cf. Ef 5,25-27). A virgindade consagrada dos sacerdotes manifesta, de fato, o amor virginal de Cristo para com a Igreja e a fecundidade virginal e sobrenatural desta união em que os filhos de Deus não são gerados pela carne e pelo sangue (Jo 1,13).(10) CS 28).


A Igreja tem consciência da escassez de sacerdotes em relação às necessidades da população do mundo. Ela sabe também que não é abolindo o celibato que vai resolver o problema. Hoje, há igrejas onde os ministros são casados e sentem a mesma dificuldade. Posso dizer, olhando a nossa realidade, que temos um bom número de sacerdotes, cinco em missão em outras Igrejas, e mais de trinta jovens se preparando para assumir a missão de evangelizar como sacerdotes celibatários. A promessa do Senhor não falha: “Vos darei Pastores segundo o meu coração”( Jr 3,15). “Para Deus tudo é possível”(cf. Mc 10,27). Vamos orar como disse Jesus: “A Messe é grande, os operários poucos, pedi ao Senhor que envie operários para sua messe”( Mt 9,37).

Profetas - Profecias


Nem todos os reis de Israel foram fiéis a Deus e alguns adoraram outros deuses.

Josias destruiu o lugar de culto a Bethel que Jeroboão tinha edificado quando o Reino foi dividido.

Depois foi por todas as cidades para destruir os altares.Apesar das bênçãos de Deus, o Povo Hebreu muitas vezes violou a Aliança com Deus, pelo pecado. Em resposta Deus enviou-lhes os Profetas, cuja missão era a de chamar o Povo ao arrependimento, a mudar os seus caminhos perversos e voltar ao cumprimento da Aliança com Deus. Os Profetas foram enviados por Deus primariamente para levarem o povo a mudar a sua vida para o cumprimento da aliança feita entre ele e Deus. A missão dos Profetas não era principalmente a de anunciar o futuro, embora o fizessem com a inspiração de Deus.

A mensagem dos Profetas foi algumas vezes anunciada com palavras ásperas para convencer o povo dos seus pecados e para o levar ao arrependimento (pela violação da aliança) e mudança de estilo de vida, mas outras vezes foi uma mensagem de esperança e consolação, nas aflições que resultaram dos seus pecados de infidelidade. O verdadeiro Profeta falava, não com as suas próprias palavras, mas com a palavra de Deus, sob a inspiração do Espírito Santo. Uma Profecia é uma mensagem de verdade recebida de Deus e transmitida através de um Profeta que serve de intermediário entre Deus e o Seu povo, e que diz coisas do futuro que nunca se saberiam de outro modo :

- Em seguida o Senhor estendeu a Sua mão, tocou-me na boca e disse-me : "Eis que ponho as Minhas palavras nos teus lábios, eis que hoje te dou poder sobre as nações e sobre os reinos"... (Jer. 11,9).

As Profecias do Antigo Testamento são únicas na sua origem, por causa do seu conteúdo ético e religioso, que incluem a revelação da vontade salvífica de Deus para com o Seu povo, censuras morais, avisos sobre o castigo divino por causa das violações da Lei e da Aliança, em forma de promessas, admonições, repreensões e ameaças. Embora Moisés e outras figuras do passado sejam considerados como Profetas, o período das Profecias é geralmente considerado desde os primeiros tempos da monarquia até cerca de 100 anos depois do exílio da Babilónia.

Desde o tempo da Lei escrita e interpretada, os Profetas são considerados como os guias do povo. Os Profetas do Antigo Testamento são citados no Novo Testamento com a consciência de que Deus falou através deles e de que alguns foram os oráculos de Deus, e isto foi plenamente demonstrado por Cristo. João Batista é a figura profética proeminente do Novo Testamento. Cristo nunca desejou para Si o título de Profeta embora muitas pessoas afirmassem que Ele o era, pelo que anunciava e porque disse a Seu respeito que "Um profeta só é desprezado na sua terra" (Mt. 13,5 7).

Na Sinagoga de Nazaré Jesus, depois de ler uma passagem do profeta Isaías, acrescentou : - «Cumpriu-se hoje mesmo o passo da Escritura que acabais de ouvir».(Lc.4,21). Houve Profetas na primitiva Igreja e S. Paulo menciona o carisma da Profecia :

- Procurai a caridade e aspirai aos dons espirituais, sobretudo ao da profecia, (1 Cor. 14,1).

- O que profetiza edifica a Igreja de Deus. Quisera eu que todos vós falásseis línguas, mas sobretudo que profetizásseis, (1 Cor. 14,4-5). A Profecia desapareceu após os tempos do Novo Testamento, e o Apocalipse (ou Revelação) é considerado como o único livro profético do Novo Testamento.

Há na Bíblia 18 Livros Proféticos : São 17 do Antigo Testamento :

- 5 Profetas maiores : Isaías. Jeremias. Baruc. Ezequiel e Daniel.

- 12 Profetas menores : Oseias. Joel. Amós. Jonas. Miqueias. Naum. Habacuc. Sofonias. Ageu. Zacarias e Malaquias.

Há apenas 1 no Novo Testamento : Apocalipse.


Nossa Senhora das Necessidades


NOSSA SENHORA DAS NECESSIDADES
Nossa Senhora das Necessidades é venerada na localidade de Soalheira, em Portugal, onde existe uma capela com quadros votivos que testemunham milagres atribuídos à Senhora das Necessidades já em 1685.
Nos momentos de grande aflição, é a Nossa Senhora das Necessidades que o povo da Soalheira recorre, como foi em 1808, quando os invasores franceses passaram pela região devastando tudo, a Soalheira foi poupada, atribuindo-se isso a milagre da Senhora que encobriu o povo com denso nevoeiro, e eles passaram ao lado e não entraram nele.
Nossa Senhora das Necessidades
Também Nossa Senhora foi e continua a ser, de grande auxílio para os soalheirenses ausentes, sobretudo quando esta terra tinha muitas pessoas na África, e mais recentemente emigrantes na Europa, principalmente na França.
A festa em honra de Nossa Senhora das Necessidades tem lugar, no domingo de Pascoela, sendo bastante participada. Já na véspera à noite se juntam muitas pessoas na igreja, para no fim da missa se realizar a procissão com a imagem de S. José para a capela de Nossa Senhora das Necessidades. No dia da festa, celebra-se a missa campal seguindo-se a procissão com a imagem de Nossa Senhora e S. José, pelas ruas da Soalheira, consistindo um momento de grande devoção e fé por parte dos seus devotos.
No final da procissão, muitas são as pessoas que se juntam à banda filarmônica, para cantar as "alvíssaras" a Nossa Senhora, dando voltas à sua capela. Na segunda feira da festa, celebra-se missa, seguida de procissão, pela parte norte da vila, chegando à capela, canta-se o adeus à Virgem, seguindo a imagem de S. José, em procissão para a igreja matriz.
Capela de Nossa Senhora das Necessidades em Soalheira, Portugal
O afluxo de peregrinos que vêm visitar a sua capela e rezar à veneranda imagem, cresceu bastante depois de em 22 de Abril de 1979, sob um sol radioso, a imagem de nossa Senhora verter lágrimas, durante a procissão pelas ruas da Soalheira, continuando o episódio a verificar-se também durante a tarde e noite desse dia.
Esse fato extraordinário foi presenciado por inúmeras pessoas, chegando essas lágrimas a serem limpas das faces da imagem, por testemunhas oculares que nessa noite se encontravam na capela. Existem ainda slides, que um peregrino oriundo da Soalheira realizou, onde se presenciam, com elevada nitidez as lágrimas que se formavam nos olhos e corriam pela face da imagem.
O Bispo da Diocese da Guarda, D. Antônio dos Santos, resolveu reabrir o processo referente à lacrimação, no final de 1997, pois encontrava-se arquivado, esperando todos os devotos de Nossa Senhora que tal fato venha a alcançar o veredictum diocesano.
Desde tempos imemoráveis que os soalheirenses, louvam Nossa Senhora das Necessidades cantando alguns desses versos:
Senhora das Necessidades

Á vossa porta me empino:

Deitai-me a vossa benção

Mai-la do vosso Menino.
Senhora das Necessidades

Quem vos varreu a capela?

Foi a vossa ermitoa

Com um raminho de marcela.
Senhora das necessidades

Estais no altar de pé:

Sois mãe de Jesus Cristo,

Esposa de S. José.
Senhora das Necessidades

Já cá vimos à ladeiraAbri a portaSenhora

Ao povo da Soalheira.
Nossa Senhora das Necessidades, Rogai por nós que recorremos a vós!
Coloquemos-nos, nós necessitados nos braços da Mãe de Deus e tenhamos certeza do seu auxílio

Conhecendo a Bíblia e a Revelação


Dei Verbum e Formação do Antigo Testamento

1. DEI VERBUM

INTRODUÇÃO:
Nosso estudo tem como base um documento do Magistério Eclesiástico que se chama Constituição Dogmática Dei Verbum. Este documento foi elaborado em 1965 no último Concílio Ecumênico da Igreja Católica, ou seja, no Concílio Vaticano II. Fala sobre a Revelação Divina e Sua Transmissão.

O que é a Revelação Divina?
É Deus comunicando e manifestando gradualmente a sua própria vida divina na história dos homens, por etapas, e que vai culminar na pessoa de Jesus. Deus quis Se revelar ao homem para que este O conhecesse e assim pudesse livremente amá-Lo e escolhê-Lo como Bem Supremo de sua vida.

Etapas da Revelação Divina:
- Deus manifestou-se desde o princípio, aos nossos primeiros pais através das coisas criadas.
- Convidou-os a uma comunhão íntima consigo mesmo revestindo-os de uma Graça e justiça resplandecentes.
- Depois da queda do homem, Deus prometeu-lhes a salvação.
- Concluiu com Noé uma aliança entre Si e todos os seres vivos.
- Escolheu Abraão e concluiu uma aliança com Ele e seus descendentes. Fez deles o Seu povo.
- Revelou a este povo a Sua lei por meio de Moisés.
- Preparou a este povo através dos profetas a acolher a salvação destinada a toda humanidade.
- Revelou-Se plenamente, enviando o Seu Filho, no qual estabeleceu a Sua aliança para sempre.
- O Filho é a palavra definitiva do Pai. Depois Dele não haverá outra Revelação.

Transmissão da Revelação Divina:
A transmissão da Revelação Divina aconteceu ao longo dos tempos, de duas maneiras: primeiro, oralmente e depois, por escrito. Hoje o que Deus revelou encontra-se por escrito na Sagrada Tradição e na Sagrada Escritura, os quais constituem um só sagrado depósito da Palavra de Deus confiado à Igreja.

1. TRADIÇÃO:
É oriunda dos Apóstolos e progride na Igreja sob a assistência do Espírito Santo . Jesus ordenou aos Apóstolos que o Evangelho fosse pregado por eles a todos. E os Apóstolos pregaram de forma oral e depois (Sob a inspiração do Espírito Santo) de forma escrita. A pregação apostólica foi conservada por escrito na Sagrada Tradição. Também fazem parte da Tradição, os escritos dos padres apostólicos (Santos Padres), bispos que conviveram com os 12 Apóstolos).

2. SAGRADA ESCRITURA (A Bíblia - Palavra de Deus)
É a Palavra de Deus, redigida pelo hagiógrafo (autor sagrado) sob a inspiração do Espírito Santo.
- A Palavra de Deus (Bíblia) - por meio do homem(autor sagrado) torna-se língua humana
- O Verbo de Deus (Jesus) - por meio de Maria(encarnação) torna-se homem.
Por isso a Igreja venera a Sagrada Escritura (A Bíblia) = Corpo de Cristo (Pão da vida)

3. MAGISTÉRIO DA IGREJA:
Só o magistério da Igreja pode interpretar e transmitir a Revelação Divina, cuja autoridade é exercida aos bispos em comunhão com o Papa.
O Magistério está a serviço das Palavra de Deus.
Ensina aos homens o que foi transmitido por Deus.

2. FORMAÇÃO DO ANTIGO TESTAMENTO

Foi no seio do povo hebreu que nasceu a Bíblia (A.T.) Os textos bíblicos do Antigo Testamento começaram a ser escritos a partir do século IX a. C. No decorrer dos séculos foi-se formando a biblioteca sagrada de Israel, sem que os judeus se preocupassem com a catalogação das mesmas. E o último livro a ser escrito foi Sabedoria (50 aC). Os autores sagrados (os hagiógrafos) viveram em lugares e ambientes muito diversos: cada um imprime na sua obra traços característicos de sua personalidade. Mas como eles escreveram sob a inspiração do Espírito Santo, é Deus o Autor principal de toda a Bíblia.

Só depois do Exílio (538 aC) é que se escreveu definitivamente o Antigo Testamento. Nessa época é que o Antigo Testamento adquiriu toda a sua autoridade. Ele se tornou o eixo de um sistema social e religioso - o judaísmo. O Antigo Testamento era como a carteira de identidade do povo de Israel.

Os judeus foram ajuntando no decorrer de sua história e coleção dos livros do Antigo Testamento e dividiram-na em 3 partes:

  1. A Lei Torá - contendo os 5 livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Formam o núcleo fundamental da Bíblia.
  2. Os Profetas - os judeus compreendiam por esse título os livros que hoje são denominados proféticos e históricos.
  3. Os Escritos - os judeus designavam por este nome os livros: Salmos, Provérbios, Jó, Cânticos, Rute, Lamentações, Eclesiastes, Ester, Daniel, Esdras e Neemias, Crônicas.

No segundo século antes da nossa era, esta coleção já estava terminada (séc. II aC).

Nessa época (entre 250 e 100aC), os judeus estavam, em parte, dispersos pelo mundo afora (diáspora - emigração e dispersão dos judeus para outros países). Quando os judeus começaram a emigrar para outros países, levaram consigo a Bíblia. Se fixou, um grupo de judeus, em Alexandria (Egito), onde se falava grego e lá constituíram uma colônia. Adotaram a língua grega e tiveram a necessidade de traduzir a Bíblia do hebraico para o grego. Conta a Tradição que o rei Ptolomeu II (Alexandria) querendo possuir na sua biblioteca um exemplar grego dos livros sagrados dos judeus, pediu ao sumo sacerdote Eleázaro de Jerusalém os tradutores. Eleázaro enviou seis sábios de cada uma das doze tribos de Israel (72 sábios) para Alexandria. Estes ficaram em 72 cubículos individuais e no final os 72 textos gregos do Antigo Testamento estavam idênticos. Consideraram um milagre! Ficou sendo conhecida como a TRADUÇÃO DOS SETENTA ou tradução Alexandrina.

Alguns escritos recentes lhe foram acrescentados sem que os judeus de Jerusalém os reconhecessem como inspirados: Tobias e Judite, Daniel e Ester (parte), Sabedoria, Eclesiástico, Baruc, Jeremias. A Igreja Cristã admitiu-os como inspirados da mesma forma que os outros livros. Desse modo a Bíblia grega (tradução dos setenta hebraico-grego) tem 7 livros a mais do que a Bíblia hebraica (original).

Os judeus de Jerusalém não reconheceram os 7 livros como verdadeiros porque eles afirmam que:
- Só podem ser escritos dentro de Israel
- Só podem ser escritos em hebraico
- Só podem ser escritos antes de Esdras

Obs: No ano 100 dC os rabinos se reuniram no sínodo de Jâmnia para estipular esses critérios.

Foi a tradução apostólica que levou a Igreja a decidir quais os escritos que deviam ser contados na lista dos livros sagrados. Esta lista é chamada de: Cânon das Escrituras.
Cânon - Karon (grego) = Catálogo
Canônico - Livro catalogado
- Os livros escritos dentro do seio da comunidade dos judeus, são chamados: PROTOCANÔNICOS (Catalogados em primeiro lugar)
- Os sete livros acrescentados em grego são chamados: DEUTOROCANÔNICOS (Catalogados em segundo lugar).
O Cânon Católico compreende 46 livros do Antigo Testamento.

Divisão da Bíblia:

1. Pentateuco (a Lei) - Gen, Ex, Lev, Num, Deut.

2. Livros Históricos - Jos, Jz, Rt, Sam, Reis, Crôn, Esd, Nee, Tob, Jud, Est, Macabeus.

3. Livros Sapienciais - Jó, Sl, Prov, Ecle, Cânt, Sab, Eclo.

4. Livros Proféticos - Isaías, Jeremias, Lamentações, Baruc, Ezequiel, Daniel, Oséias, Joel, Amós, Abdias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuc, Sofonias, Ageu, Zacarias, Malaquias

O Cânon Católico - Adota a Bíblia hebraica juntamente com os sete livros acrescentado na tradução grega. Os protocanônicos e deuterocanônicos.

Os judeus - adotam só a Bíblia hebraica (Protocanônicos). não aceitam os livros deuterocanônicos.

Como o israelita escrevia a Bíblia:
Dentre todos os antigos povos do Oriente, somente o povo de Israel se distingue por ter cultivado a história. No meio de uma cultura politeísta de Israel de desdobra sob a influência de uma crença monoteísta. Os Israelitas sabiam, por revelação divina, que Deus fala e age pelos acontecimentos.

“Deus querendo e preparando a salvação do homem, elegeu para si um povo ao qual confiaria as promessas” (Rom 15, 4)

Línguas Bíblicas: Os idiomas que Deus quis se servir para falar aos homens foram: o hebraico (para praticamente o AT inteiro), o aramaico (alguns dos livros) e o grego (Para o AT escrito pelos setenta, e para quase todo o NT).

Homilia extraordinária de Sua Santidade, Bento XVI, na missa de Corpus Christi 2009


"Este é o meu corpo, este é o meu sangue".

Queridos irmãos e irmãs,

estas palavras que Jesus disse durante a Última Ceia repetem-se de cada vez que se renova o Sacrifício eucarístico. Nós escutamo-las há pouco no Evangelho de Marcos e elas ressoam com notável poder evocativo hoje, Solenidade de Corpus Christi. Conduzem-nos ao Cenáculo e trazem a atmosfera espiritual daquela noite, quando, celebrando a Páscoa com os seus, o Senhor antecipou no mistério o sacrifício que seria consumado no dia seguinte sobre a cruz.

A instituição da Eucaristia surge como antecipação e aceitação de Jesus pela sua morte. Escreve a esse propósito Santo Efrém, o sírio: durante a ceia, Jesus sacrificou-se, na cruz Ele foi morto por outros (cf. Hino sobre a crucificação de 3, 1).

"Este é o meu sangue". Clara é aqui a referência à linguagem sacrificial de Israel. Jesus apresenta-se como o verdadeiro e definitivo sacrifício, no qual se realiza a expiação dos pecados, o que, nos ritos do Antigo Testamento, não fora ainda plenamente realizado. A essa expressão se seguirão outras duas muito significativas. Em primeiro lugar, Jesus Cristo disse que o Seu sangue era “derramado em favor de muitos", com uma compreensível referência aos cantos do Servo, encontrados no livro de Isaías (cf. capítulo 53). Com o acréscimo de "o sangue da aliança", Jesus deixa claro que, graças à Sua morte, finalmente se torna efectiva a aliança feita por Deus com o "Seu" povo. A antiga aliança fora estabelecida no Monte Sinai com o rito sacrificial de animais, como ouvimos na primeira leitura, e o povo eleito, libertado da escravidão no Egipto, havia prometido seguir as orientações do Senhor (cf. Ex. 24, 3).

Na verdade, Israel, com a construção do bezerro de ouro, mostrou-se incapaz de se manter fiel à aliança divina, que foi transgredida frequentemente, adaptando ao coração de pedra a Lei que era para ensinar o caminho da vida. Mas o Senhor não abdicou da sua promessa e, através dos profetas, chamou a atenção para a dimensão interior da aliança, e anunciou que gravaria esta nova lei nos corações dos fiéis (cf. Jer. 31, 33), transformando-os com o dom do Espírito (cf. Ez. 36, 25-27).

E foi durante a Última Ceia que fez com os discípulos esta nova aliança, não a confirmando com sacrifícios de animais, como no passado, mas com o seu sangue, tornado "sangue da nova aliança”.

Isto vem bem evidenciado na segunda leitura, retirada da Carta aos Hebreus, onde o autor sagrado declara que Jesus é o “mediador de uma nova aliança" (9, 15). Tornou-se isto graças ao seu sangue ou, mais precisamente, graças ao dom de si, dando pleno valor ao seu sangue.

Na Cruz, Jesus é ao mesmo tempo vítima e sacerdote: vítima digna de Deus porque sem mancha, e sumo sacerdote que se oferece a si mesmo, sob o impulso do Espírito Santo, e intercede por toda a humanidade. A Cruz é, portanto, mistério de amor e de salvação, que purifica a consciência da "opere morte", isto é, do pecado, e santifica-nos, esculpindo a nova aliança nos nossos corações; a Eucaristia, renovando o sacrifício da Cruz, faz-nos capazes de viver fielmente a comunhão com Deus.

Queridos irmãos e irmãs, a quem saúdo, a todos, com afecto, começando pelo cardeal vigário e os outros cardeais e bispos presentes; como o povo eleito reunido na assembleia do Sinai, ainda hoje queremos reafirmar a nossa fidelidade ao Senhor. Há poucos dias, na abertura da convenção anual diocesana, mencionei a importância de permanecer, como a Igreja, na escuta da Palavra de Deus, por meio da oração e do estudo das Escrituras, e em especial da prática da lectio divina. Sei que muitas iniciativas se fazem nas paróquias, seminários, comunidades religiosas, no âmbito das irmandades, associações e movimentos apostólicos, que enriquecem a nossa comunidade diocesana. Aos membros destes diferentes organismos eclesiais envio a minha fraterna saudação. A sua numerosa presença nesta grande festa, queridos amigos, põe em destaque a nossa comunidade, caracterizada por uma pluralidade de culturas e experiências diferentes; Deus a molda como ao "seu" povo, como o Corpo de Cristo, graças à nossa sincera participação na dupla mesa da Palavra e da Eucaristia. Nutridos de Cristo, nós, seus discípulos, recebemos a missão de ser a "alma" da nossa cidade (cf. Lettera a Diogneto [Carta a Diogneto], 6: ed. Funk, I, p. 400; ver também LG, 38), fermento de renovação, pão repartido para todos, especialmente para aqueles que estão em situações de sofrimento, pobreza e dor física e espiritual. Tornamo-nos testemunhas do seu amor.

Faço um apelo especial a vós, queridos sacerdotes, a quem Cristo escolheu, para que junto dele possam viver a vossa vida como sacrifício de louvor para a salvação do mundo. Só a partir da união com Jesus pode-se ter aquela fecundidade espiritual que é fonte de esperança no seu ministério pastoral. Recorda São Leão Magno que "a nossa participação no corpo e sangue de Cristo não tende a nada mais do que transformar-nos naquilo que recebemos" (Sermão 12, De Passione 3/7, PL 54). Se isto é verdade para cada cristão, é ainda mais para nós sacerdotes. Ser Eucaristia! Seja este o nosso desejo e esforço constante, para que a oferta do corpo e sangue do Senhor que fazemos sobre o altar esteja acompanhada do sacrifício das nossas vidas. Todos os dias, cultivemos pelo Corpo e Sangue do Senhor aquele amor livre e puro que nos faz dignos ministros de Cristo e testemunhas da sua alegria. É aquilo que os fiéis esperam de um padre: o exemplo do que é uma verdadeira devoção à Eucaristia; o amor que se vê ao passar longos momentos de silêncio e de adoração diante de Jesus, como fazia o Santo Cura d'Ars, que será lembrado de modo especial durante o Ano Sacerdotal.

São João Maria Vianney gostava de dizer aos seus paroquianos: "Venham para a comunhão... É verdade que não somos dignos, mas precisamos" (Bernard Nodet, Le Curé d'Ars. Sa pensée - Filho coeur, éd. Mappus Xavier, Paris 1995, p. 119). Com a consciência da inadequação por causa dos pecados, mas com a necessidade de nutrir-nos do amor que o Senhor oferece no sacramento eucarístico, renovamos esta noite a nossa fé na presença real de Cristo na Eucaristia. Não se deve ter como um dado adquirido esta fé!

Há hoje o risco de uma secularização intrínseca na Igreja, que se pode traduzir num culto eucarístico formal e vazio, em celebrações destituídas daquela participação do coração que se exprime na veneração e no respeito pela liturgia. É sempre forte a tentação de reduzir a oração a momentos superficiais e apressados, deixando-se submergir pelas actividades e preocupações terrenas. Quando em breve recitarmos o Pai Nosso, a oração por excelência, vamos dizer: "O pão nosso de cada dia nos dai hoje", a pensar, naturalmente, no pão de cada dia. Esta questão contém, no entanto, algo mais profundo. O termo grego epioúsios, que traduzimos como "quotidiano", poderia também aludir ao pão "supra-substancial", o pão "do mundo a advir". Alguns Padres da Igreja viram aqui uma referência à Eucaristia, o pão da vida eterna que é dado na Santa Missa, a fim de que desde agora o mundo futuro comece em nós. Com a Eucaristia, portanto, o céu vem à terra, o advir de Deus ergue-se no presente e o tempo é abraçado pela eternidade divina.

Queridos irmãos e irmãs, como todos os anos, no final da Santa Missa, teremos a tradicional procissão eucarística e elevaremos, com orações e cantos, um coro de imploração ao Senhor presente na hóstia consagrada. Diremos a Ele em nome de toda a cidade: permanece connosco, Jesus, concede-nos o dom de ti e dá-nos o pão que nos alimenta para a vida eterna! Liberta este mundo do veneno do mal, da violência e do ódio que polui as mentes, purifica-o com a força do teu amor misericordioso. E a ti, Maria, que te fizeste mulher "eucarística" na tua vida, ajuda-nos a caminhar juntos rumo à meta do céu, alimentados pelo Corpo e Sangue de Cristo, pão da vida eterna e remédio da imortalidade divina. Amen!

Ato de Escravidão a Nossa Senhora Mãe de Jesus (escravidão ou ato de Amor)



A ESCRAVIDÃO A NOSSA SENHORA É A SUPREMA LIBERDADE

Prof. Plinio Corrêa de Oliveira


Hoje em dia, quando se fala da escravidão de amor a Nossa Senhora, há uma estranheza muito grande, porque a escravidão é a própria idéia de vergonha, e não se compreende o que faz a escravidão na devoção a Nossa Senhora.
O que quer dizer escravidão de amor a Nossa Senhora? No que consiste a escravidão de amor a Nossa Senhora? A escravidão, ainda que seja a Nossa Senhora, é uma vergonha para um homem? A obediência, a dependência é uma vergonha para um homem?


O que é a escravidão de amor

São Luís Grignion (*) explica isto muito bem. A escravidão, entre os antigos, era imposta. Os pais tinham o direito de vender seus filhos como escravos, e era imposta, portanto, pelo pátrio poder. Era imposta pelos reis, que podiam vender seus súditos. Mas era sobretudo imposta pela guerra. Quando um país ganhava uma guerra contra outro, todos os súditos do país vencido passavam a ser escravos do país vencedor. Todo vencido de guerra era escravo.
São Luís Grignion diz bem que não é esta a escravidão de amor. Ela é um vínculo de dependência que nós aceitamos em relação a Nossa Senhora, porque amamos Nossa Senhora. Quer dizer, nós A queremos tanto, temos nEla tal confiança, que queremos fazer tudo quanto Ela quer, como um escravo quer fazer tudo que seu senhor quer. É uma dependência de amor. Não é imposta pelo despotismo, não é imposta pela força, é imposta pelo amor.
No que consiste isto? Consiste naquela união que Nosso Senhor já defendeu no Evangelho, quando falou dos apóstolos que não eram unidos a Ele. Ele disse: "Nem as vossas cogitações são as minhas cogitações, nem as vossas vias são as minhas". Isto quer dizer que quando as pessoas têm o mesmo pensamento, o mesmo querer e o mesmo agir, elas estão unidas.
Sendo Nossa Senhora a Rainha do Céu e da Terra, se eu tiver todas as cogitações de Nossa Senhora, quiser tudo o que Nossa Senhora quer e fizer tudo quanto Ela quer que eu faça, estarei unido a Nossa Senhora. Se minha vida é um contínuo fazer assim, sou escravo de Nossa Senhora. Mas sou escravo de amor, porque resolvi fazer isso pelo amor que tenho a Ela. Ela tinha esse direito, e resolvi atender o direito dEla. É uma alta e transcendental união de alma, que por essa forma se exprime, e que dá, de fato, numa obediência: porque Ela pensa, eu penso; Ela quer, eu quero; Ela quer que eu faça, eu faço. Eu dependo dEla em tudo.


Obedecer não limita a liberdade

Como isso se dá em concreto?
Se quero pensar como Nossa Senhora, devo pensar como a Igreja Católica; se quero querer o que Nossa Senhora quer, devo querer o que a doutrina da Igreja me ensina que devo querer; se quero fazer o que Nossa Senhora quer que eu faça, devo fazer aquilo que o espírito católico me indica que faça. Por essa maneira, serei escravo de amor de Nossa Senhora.
Trata-se de perguntar se é uma vergonha uma pessoa depender de tal maneira de Nossa Senhora. E, mais profundamente, se a obediência é uma vergonha, se a dependência é uma vergonha, se a doutrina liberal a respeito disso é verdadeira ou falsa.
Saindo daqui, tenho a possibilidade de ir passear de automóvel, inutilmente, para me distrair; de outro lado, tenho a possibilidade de ir para minha casa para descansar, cumprindo meu dever. O indicado pelo mundo, hoje, seria fazer o agradável que está diante de mim. No caso, ir passear. O dever é considerado uma limitação de minha liberdade, porque me obriga a fazer o que não gosto. Minha liberdade, portanto, consiste em fazer o maior número de atos que eu ache agradável, o maior número de atos que me atraiam. Em sentido contrário, a carga do dever limita minha liberdade.
A este respeito, vamos ver o que nos diz a doutrina católica. Leão XIII expõe este assunto numa encíclica muito bonita: "Libertas Præstantissimum". Ele nos ensina exatamente o contrário. Para compreender bem essa doutrina, precisamos tomar fatos que até se passam fora da ordem humana.
Imaginem um bando de gaivotas à beira-mar, e que uma criança conseguisse segurar uma gaivota antes de ela levantar vôo. Dir-se-ia que, de algum modo, a criança tolheu a liberdade da gaivota. Por quê? Porque está no primeiro impulso natural da gaivota levantar vôo para comer peixes. Está de acordo com a ordem que Deus quis colocar nas coisas. Está, portanto, de acordo com essa ordem que a gaivota fique espairecendo, voando de um modo magnífico, e depois mergulhando para apanhar o peixe. Mas não é um direito, porque um animal não tem direitos, e a liberdade é um direito.
Imaginem que uma pessoa pudesse, com essas bombas super-modernas, dar um tiro num cometa e destruí-lo. Tem-se a impressão de que a liberdade do cometa teria sido restringida, porque ele estava naquela trajetória bonita, natural, elegante, querida por Deus, e o caminho da ordem própria ao cometa foi interrompido por alguém. Um cometa não tem direitos, mas dir-se-ia que a liberdade do cometa foi interrompida.


A liberdade do homem consiste em praticar o bem

Leão XIII diz que assim é também a criatura humana. Há uma porção de verdades que o homem vê, e a sua própria natureza o faz desejá-las. O primeiro movimento da alma humana diante do bem é seguir o bem. De maneira que o homem quer praticar o bem, como a gaivota quer dar o seu vôo. E a liberdade do homem consiste em seguir esse movimento, como a liberdade da gaivota consiste em dar o seu vôo inteiro.
Mas vem algo que diminui no homem a possibilidade de praticar o bem: é a tentação, um peso que o leva para outro lado. Qual é o efeito próprio da tentação? Diz Leão XIII que é diminuir a liberdade do homem. Os homens seriam muito mais livres se não fossem tentados, a tentação é o contrário da liberdade. Não é o pecado, e sim a virtude que é a liberdade. O pecado é o contrário da liberdade. Nós seríamos muito mais livres, seríamos como a gaivota no ar, se não fôssemos tentados.
A verdadeira liberdade do homem - continua Leão XIII - não é fazer tudo que lhe passa pela cabeça, inclusive o mal, mas é seguir sempre o seu primeiro impulso bom, sem admitir embaraços que venham tolher esse impulso. A verdadeira liberdade está no dever. Essa é a verdadeira noção de liberdade.
Isso é muito verdadeiro, e contraria a noção liberal completamente. O liberalismo fica reduzido a frangalhos com esse conceito, que entretanto é evidente.
Outro exemplo. Um homem se encoleriza com outro. Vê que não deveria dizer ao outro uma palavra ríspida, porque é contra os interesses dele, e com isso vai perder, digamos, um bom negócio. Qual é o homem verdadeiramente livre: o que, para fazer um bom negócio, se contém e não diz a palavra ríspida, ou aquele que diz a palavra ríspida e perde o bom negócio? O primeiro é livre, o segundo é escravo. E daí vem a expressão corrente "escravo do vício".
A verdadeira liberdade consiste em praticar o dever, e não há homem mais livre do que aquele que obedece às leis justas e obedece às autoridades justas. Esta é a primeira noção que devemos reter.


Minha liberdade consiste em procurar a verdade inteira

Uma segunda noção que Leão XIII desenvolve. Se me analiso a mim mesmo, vejo que posso encontrar muitas verdades, fazendo uso de minha inteligência. Mas percebo também que outros entendem melhor do que eu muitas outras verdades. E até, muitas vezes, outros menos inteligentes do que eu percebem melhor certas coisas. Deus nos fez de tal maneira que cada um vê umas tantas coisas que nenhum outro vê, ou as vê com mais clareza.
Chego então à seguinte conclusão: se outros vêem coisas que não sou capaz de ver, se minha liberdade consiste em ver a verdade inteira e em atender o meu apetite de verdade, deverei saber consultar aqueles que são mais capazes do que eu, para certas coisas, e seguir nessas coisas a opinião deles, de preferência à minha. Assim realizo o meu apetite de conhecer a verdade inteira. Daí o fato de se recorrer a técnicos, a especialistas, a pessoas que têm muita experiência da vida, a pessoas que têm muita elevação de pensamento. Porque eles são capazes de, em certas emergências, encontrar um caminho que nós, por nós mesmos, não encontraríamos.
O homem que quer ser verdadeiramente livre, que quer levar à plenitude sua tendência para o bem, aceita ser controlado, aceita ser dirigido pelo mais capaz. Com isso dá uma prova magnífica de sua liberdade. Nós compreendemos por aí que o próprio fato de ser mandado ainda é a mais alta forma de liberdade. A coisa mais natural do mundo é que o homem verdadeiramente livre peça conselho, aceite ser influenciado para ser mais livre. Assim ele consegue realizar aquilo que ele quer, no fundo, que é conhecer a verdade inteira.
Há mais. Todo homem que não seja um orgulhoso debandado compreende que, quando se trata de julgar a si próprio, ele muitas vezes é parcial, e se julga benevolamente.


A suprema liberdade é a escravidão a Nossa Senhora

Daí decorre que a forma suprema da liberdade é aceitar-se a autoridade daqueles que nos ajudam a praticar a verdade e o bem, ou seja, a fazer aquilo que de fato queremos. Não há, portanto, forma mais cristalina e mais sublime de liberdade do que sermos escravos de Nossa Senhora. É o auge da dignidade humana, porque é fazer, em tudo, aquilo para onde as nossas melhores apetências caminham.
Qual é a conseqüência disso para nós, quando formos nos consagrar a Nossa Senhora? É levarmos um espírito amoroso de autoridade, isto é, compreendendo a função da autoridade, compreendendo a função da obediência e compreendendo que, fazendo-nos tão pequenos diante dEla, fazemos uma coisa sublime, uma coisa altamente dignificante. Não devemos nunca nos envergonharmos de obedecer, de seguir um outro, porque exatamente aí está a mais alta dignidade do homem.


A epopéia se forma na obediência

Alguém dirá: "E aqueles guerreiros medievais tão combativos, os pares de Carlos Magno, aqueles homens tremendamente varonis? Eram também assim?"
Precisamente isso é que forma o homem capaz de uma epopéia. Quando o homem tem uma vontade tão firme, ele diz: "A verdade, eu a quero até o fim, custe o que custar; o bem, eu o quero até o fim, custe o que custar. Então vou esforçar-me de todos os modos para conhecer a verdade, para conhecer o bem. Mas, conhecendo minha falibilidade, vou fazer essa renúncia de resolver tudo pela minha cabeça, mas consultarei o ensinamento da Igreja Católica, que vale mais do que minha cabeça. Portanto, quero ter uma certeza do que penso por ser o que a Igreja pensa, o que é certeza muito maior do que tenho naquilo que penso por mim mesmo, porque uma Igreja divina e infalível me ensinou".
É por isso que há essa frase na Escritura, que se aplica a Nossa Senhora: "Tibi servire regnare est" - Ser teu servo é ser rei. Ser escravo de Nossa Senhora é ser rei. Portanto, devemos consagrar-nos a Ela, não como quem se envergonha, mas como quem se honra. A nossa ufania é de sabermos obedecer, por um ato de suprema força de vontade.
Termino com um fato muito bonito, que Montalembert narra na introdução do livro sobre Santa Isabel da Hungria. Ele conta que um xeque árabe, que havia sido aprisionado pelos cruzados, estava passeando pela França, e olhava aquelas catedrais magníficas. Em uma delas, provavelmente de uma abadia, ele perguntou: "Quem é que construiu?". Mostraram-lhe uns irmãos leigos rezando. Desconcertado, ele perguntou: "Como é que homens tão humildes podem construir monumentos tão altivos?"
Acho isso uma beleza. Os grandes atos de altivez da vida são das almas que conhecem a glória de obedecer. A obediência não é o contrário da valentia e da varonilidade, ela é a flor da valentia e da varonilidade.

O Magnificat


Para penetrarmos na profundidade do Canto do Magnificat, precisamos partilhar os mesmos sentimentos de gratidão, pela eleição misericordiosa de Deus, que perpassavam a alma de Maria e refletiam o sentimento de todo o povo judeu.

O povo judeu sabia que, dente tantos povos que adoravam outros e diversos deuses, ele havia sido escolhido para ser posse exclusiva do Deus Vivo, seu "povo particular entre todos os povos" (Ex.19,5), através do qual Ele se manifestaria no Messias tantas vezes prometido e tão ansiosamente aguardado através dos séculos.

Educada no Templo aos moldes da pedagogia rabínica, Maria havia decorado as inúmeras profecias que prometiam a vinda do Ungido, assim como os salmos, cânticos e passagens do Antigo Testamento que falavam do poder vitorioso do Deus fiel às suas promessas.

As palavras do Anjo Gabriel na Anunciação ressoavam poderosamente no coração da Virgem, em primeiro lugar, pela ação singular da graça especialíssima que anunciava, mas também porque no coração de Maria estavam guardadas palavras e promessas nas quais confiava e esperava. A estas palavras uniram-se a evidência do milagre em Isabel e sua saudação inspirada, e todo o ser de Maria explodiu na profunda alegria da certeza de que, dentre o povo separado para Deus, dentre aqueles que eram sua propriedade particular, ela, em especial, havia sido escolhida para o maior dos privilégios que qualquer homem jamais poderá experimentar, sem que tivesse sequer sonhado com isso:

"Minha alma glorifica ao Senhor, meu espirito exulta de alegria em Deus, meu Salvador,"

A alegria de Maria vem de Deus e para Ele remete todo o seu ser virginal. Deus é a razão e a referência última de sua alegria. Ela se alegra e exulta em Deus, por causa de Deus e para glória de Deus, por causa de Deus e para a glória de Deus. Maria sabe bem que foi escolhida gratuitamente, por pura misericórdia daquele cujos desígnios são absolutamente livres. É então a Ele que sua alma e espírito glorificam e Nele que exultam em entrega absoluta movida pelo reconhecimento de sua bondade incomparável e pela gratidão de quem se sabe gratuitamente eleita.

"Porque olhou para sua pobre serva".


Serva. Aquela que vive para fazer a vontade do seu Senhor. Aquela que vê no cumprimento da Sua vontade soberana o único sentido de sua existência. Aquela que jamais sequer cogitaria em viver fora Dele e para outra pessoa a não ser para Ele.

Colocar-se como serva do Senhor é parte essencial de toda a espiritualidade de Nossa Senhora; é a sua maneira de relacionar-se com Deus, de Ter a sua vontade unida à Dele em toda circunstância; é a razão de sua participação na missão redentora de Jesus, o eterno e primeiro Servo. Ser servo é dizer "sim" não só a Jesus, mas com Jesus, dizer "sim" ao Pai. É aceitar percorrer com Jesus o caminho de salvação, paixão, morte e ressurreição por amor ao Pai e para que se cumpra a Sua vontade no coração dos homens. Ser servo é "colocar-se no meio", com Jesus e em Jesus, sendo mediador entre Deus e a humanidade. Ser servo é deixar que o Espírito inflame de amor nosso coração em caridade, cada vez mais ardente, para com Deus e para com os homens a quem Ele ama.

O servo é aquele que encontrou o caminho mais curto e eficaz para o amor concreto. Seu serviço a Deus enche-o de fervorosa caridade para com Ele, a quem obedece em absolutamente tudo, seu serviço aos homens é um trasbordamento amoroso de sua caridade para com Deus e o cumprimento de Sua vontade em Seus filhos. O servo é aquele que segue Jesus e Maria na característica mais singela e, no entanto, mais radical e maura de seu relacionamento para com Deus.

O servo descobre a um tempo o caminho da caridade e da humildade, da perseverança e da fortaleza, da prudência e da obediência, pois seu único referencial é sempre a vontade de Deus, inflamada pelo grande e ardente amor que a Ele o une. A posição de servo, que Jesus assumiu desde toda a eternidade, é a mais segura e mais perfeita imitação dos sentimentos e obras do Redentor e da Co-redentora que, incomparavelmente unida a Ele, mostrou-nos o segredo de em tudo agradar a Deus.
Jesus é o Servo por excelência. Por ser Servo obedeceu até a morte de cruz e nos salvou de nossa desobediência original. Maria é a Serva, perfeita imitadora do Filho, perfeita participante de sua eterna missão intercessora.

" Por isto, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é santo".

Meditando esta parte do Magnificat não se pode deixar de admirar o grau de consciência e perfeita aceitação que Maria tinha de sua missão e vocação. Ë certo que não conhecia o correr dos acontecimentos futuros, que deveria viver na obediência diária da fé. No entanto, é evidente que, embora sem saber que acontecimentos envolveriam sua missão, Nossa Senhora tinha perfeita disponibilidade e aceitação do que Deus queria de sua vida.

"As gerações todas me proclamarão bem-aventurada porque Deus realizou em mim maravilhas".

Fica aqui clara a consciência de sua missão e eleição - "Não haverá jamais alguém tão feliz como eu" e a marca de sua humildade - a missão só se concretizou em virtude do seu livre e contínuo "sim" a Deus.
A bem-aventurada entre todos os homens, durante todas as gerações, prorrompe em louvor terno fervoroso e amoroso ao Deus santo, poderoso, cuja misericórdia faz maravilhas sem nenhuma explicação que não seja própria misericórdia.

" Sua Misericórdia se estende, de geração em geração sobre os que o temem."

Maria ora agora como membro do povo judeu, eleito e temente a Deus. Fala também profeticamente, como membro do novo povo de Deus, povo conquistado ao preço do sangue de Cristo e que a Ele aderiu pela graça da fé. Ao mesmo tempo, a Mãe de Deus proclama um princípio eterno: a abertura e a ação da graça por parte dos que buscam viver segundo a vontade de Deus.

"Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos. Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes."

Maria conhecia bem o poder da ação de Deus; sabia do que é capaz o Seu braço quando encontra um coração temente, humilde e disponível; testemunha em seu próprio ser que tudo lhe é submisso.
Maria olha para si mesma uma anawin pobre serva de ahveh e deslumbra-se diante da evidência de que Deus reservou aos mais humildes a mais alta exaltação, que uma criatura humana jamais poderia Ter: ser a mãe do Verbo encarnado. Profetiza, também, que esta pequenez deverá ser característica imprescindível a todo aquele que, de fato, for de Deus. Ela será a primeira entre os humildes que, pequeninos, acolherão a revelação da economia do Reino de Deus.

"Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos."

No Reino não há lugar para os corações soberbos e nem para os que buscam o poder e as honras. A boa Nova não ressoa nos corações ricos de si, apegados a riquezas e prazeres, empanturrados de supérfluos e de aparências, fartos e auto-suficientes.

O Reino é anunciado aos pobres, humildes e vazios de si mesmos, que têm fome e sede de justiça e de paz. Estes têm fome e sede de justiça e de paz. Estes têm fome de Deus. Colocam-se diante Dele como necessitados, famintos, pequenos. Conscientes de sua indigência tudo esperam daquele que é a salvação. Estes, como crianças pequeninas, acolhem a Boa Nova, aceitam-na e a vivem.

Não há como nos desviarmos da verdade evangélica que norteou a vida de absolutamente todos os santos: tudo o que centraliza o homem em si mesmo é riqueza que não se coaduna com a pobreza necessária para a acolhida e vivência da verdade. Toda posse do necessário, ainda que seja um alfinete, é um bloqueio para a ação de Deus na alma que se enriquece e se fecha à graça, porque ama mais a si mesma que Àquele de Quem tudo recebe.

Jesus veio para anunciar a boa nova ao pobres, aos humildes, aos que buscam mais o Senhor que a si próprio. Antes que Ele o dissesse claramente, Sua Mãe, cheia do Espírito, compreendeu que havia sido inaugurada uma nova mentalidade, com características desconcertantes: o Deus Vivo escolhia uma pobre menina moça para, nela, fazer-se um minúsculo ovo; o Deus Todo Poderoso confiava-se a esta mesma jovem e dela dependeria. Antes de qualquer outra pessoa, a Mãe de Jesus aprendera, pelo que Deus fizera, a linguagem da Nova Aliança, onde Deus se faz pequeno e servo e ensina este caminho para que, seguindo-o, os homens sejam felizes.


"Acolheu a Israel, seu sevo, lembrando de sua misericórdia, conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre.


A que extremos chega a humildade de Maria! Sabemos que foi ela que, consultada por Deus acolheu o Filho do Altíssimo com o seu "fiat. No entanto, ela não vê este momento como uma escolhida que faz de Deus ( ela não se considera digna de tanto!), mas a ocasião onde Deus acolhe Israel, servo, escravo, propriedade Sua, entregue a povos e deuses estranhos, empobrecidos e indigno de aproximar-se do Todo Poderoso. Na ótica de Maria, a Encarnação do Verbo é o momento em que Deus acolhe Israel; o momento da misericórdia absoluta em que Ele se curva sobre a humanidade para receber a posteridade de Abraão, inserindo nela, como Deus e Homem.

Na verdade, haveria maneira mais radical e amorosa de Deus acolher o homem do que se tornando homem sem perder a sua identidade divina para, pela morte e ressurreição do Verbo inseri-lo na vida de Deus e habitar em sua alma para sempre? Era, de fato, a inauguração de uma nova economia. Deus não se limitava mais a dizer "façam isso ou aquilo". Ele agora dizia: "eu me faço um homem, eu tomo a iniciativa, eu mesmo vou fazer no lugar de vocês, eu acolho vocês sendo um de vocês, porque os amo".

Lembrando de sua misericórdia, Deus não trata Israel conforme suas obras, mas segundo o Seu coração compassivo e fiel. Maria compreende, profeticamente, a implicação do seu "cumpra-se em mim" e embora vá continuar a tatear na fé, pela virtude compreende e assume seu papel e missão na Nova e Eterna Aliança. Para ela contribui, humilde e definitivamente, com sua carne e sangue, serviço irrestrito, como mulher e como a Nova Eva que, livre e incomparavelmente feliz, canta as maravilhas do seu Deus.


Guarda Suíça Pontifícia


A origem da Guarda Suíça Pontifícia


O SAQUE A ROMA

Durante a segunda guerra entre Carlos V e Francisco, a Cidade Eterna foi invadida e saqueada pelas tropas do Imperador. Luteranos e espanhóis protagonizaram a mais triste das jornadas da história moderna. Resgatamos este episódio do esquecimento e recordamos com honra a origem da Guarda Suíça papal.

É curioso: a recente polêmica sobre em relação ao saque a Constantinopla não trouxe à baila outro saque acaso mais sangrento e que aconteceu no coração mesmo do mundo civilizado. Trata-se do ataque a Roma por parte do Imperador Carlos V, em meio à segunda guerra contra o rei Francisco I.

O exército imperial se compunha de uns 18.000 mercenários, entre os quais a maioria era de luteranos, com o consagrado ódio irrefreável contra a Santa Igreja.

Em 6 de maio de 1527, tomam de assalto à Cidade Eterna. as cenas de violência e crueldade são inexprimíveis. O saque é cometido por tropas ensandecidas e cauterizadas pela falta de líderes. A ambição pelo lucro e o ódio contra a religião se convertia em uma orgia de pilhagem, violações e torturas contra a população civil. Um manuscrito veneziano contemporâneo relata: "O Inferno não é nada se comparado com a visão que oferece a Roma de hoje".

Erasmo de Roterdã, um humanista pouco suspeito de fanatismo religioso pro - católico, escreve: "Roma não era só a fortaleza da religião cristã, a sustentadora dos espíritos nobres e o mais sereno refúgio das musas; era também a mãe de todos os povos. Porque, para muitoso, Roma era mais querida, mas doce, mais benfazeja que seus próprios países. Em verdade, esse episódio não constituiu tão-somente o ocaso desta cidade, mas o do mundo".

Há cinco séculos desse triste fato, ninguém exige ao Rei da Espanha que peça perdão à Igreja ou ao Papa por esse atropelo. Nem nós católicos guardamos ressentimento contra o povo espanhol ou alemão. Nos ataques à Santa Igreja por parte de cismáticos, hereges ou pecadores, brilha a veracidade e autenticidade exclusivamente católica: a Igreja é una no tempo e no espaço. Enquanto o resto das instituições humanas se renovam, nascem e morrem, a Igreja é eterna e imutável.


A ORIGEM DA GUARDA SUÍÇA PONTIFÍCIA


Pouco anos antes, em 1506, formava-se a Guarda Suíça Pontifícia. Três anos antes, sua Santidade o papa Júlio II havia solicitado a proteção dos nobres suíços. 150 dos melhores e mais valentes nobres desse país, procedentes dos cantões de Zurique e Lucema, chegam à Cidade Eterna sob o comando do capitão Kaspar Von Silenem.

Esse 6 de maio de 1527, quando as tropas invasoras assaltavam Roma, ficou marcado como o mais épico e glorioso dentre os numerosos feitos da Guarda Suíça. Frente à basílica de São Pedro, os cento e cinqüenta soldados da Guarda se enfrentam com mais de mil soldados alemães e espanhóis. Combatem ferozmente protegendo a augusta pessoa do Soberano Pontífice. A contenda se desenvolve nas escadas do Altar-Mor.

A bravura dessa Guarda ficou marcada a fogo na memória da humanidade: só sobreviveram 42 dos 150 guardas papais. Formados em círculo em torno de sua Santidade o Papa Clemente VII, logrando criar uma via de escape a fim de colocá-lo a salvo no castelo de Santo Ângelo. A violência do combate e o zelo pelo Santo Padre ficou manifesto no quão caro venderam suas vidas ao inimigo: para cada um deles, morreram cinco oponentes; 800 inimigos caíram mortos ante as armas suíças.

Rememorando esse heróico gesto, a cada 6 de maio os novos "alabarderos" prestam juramento diante do Papa e são empossados. Com a mão direita levantada, os três dedos abertos recordam os três primeiros cantões suíços que se reuniram em confederação: Zurique, Uri Unterwalden e Lucema.

A bandeira da escolta pontifícia porta, desde então, no quartel inferior as armas de Júlio II e no superior as do Papa reinante.