Introdução (Cat 279-292)
De onde viemos? Para onde vamos? Qual é a nossa origem? Qual é a nossa meta? As questões da origem e do fim são inseparáveis e decisivas para o sentido e a orientação da nossa vida e do nosso agir. No entanto, só há uma origem e um único Fim Supremo, que é Deus e somente a partir dEle é possível orientarmos as nossas vidas.
A revelação do mistério da Criação está intimamente ligado à Revelação e realização da Aliança de Deus com o seu povo. A Criação é a primeira manifestação do Amor de Deus pela humanidade, e é o primeiro passo rumo à Aliança que Ele quer realizar com o ser humano, a fim de uni-lo intimamente a Ele. Cada ser humano foi criado para fazer parte do povo de Deus, da família de Deus. Fomos criados por Ele e para Ele. Pertencemos a Deus e nossa felicidade está em Deus.
Segundo ensina o Catecismo da Igreja Católica, os três primeiros capítulos do Livro do Gênesis ocupam um lugar único entre todas as palavras da Sagrada Escritura sobre a Criação, exprimindo que esta tem sua origem e fim em Deus. As Palavras contidas neles são a fonte principal para a Catequese dos Mistérios do "princípio": Criação, Queda e Promessa da Salvação. (Cat 289).
1- O mundo foi criado para a glória de Deus (Cat 293-298)
Assim nos explica São Boaventura:
"Deus criou todas as coisas, não para aumentar a sua glória, mas para manifestar a glória e para comunicar a sua glória. Pois a única razão da Criação de Deus é o seu amor e a sua bondade.
E explica o Concílio Vaticano I:
"Este único e verdadeiro Deus, por sua bondade e por sua "virtude onipotente", não para adquirir nova felicidade ou para aumentá-la, mas a fim de manifestar a sua perfeição pelos bens que prodigaliza às criaturas, criou simultaneamente no início dos tempos ambas as criaturas do nada: a espiritual e a corporal" (DS 3002).
A glória de Deus consiste na manifestação e comunicação da sua bondade, pelas quais o mundo foi criado (Ef 1,5-6 e I Cor 15,28). Assim, o mundo foi criado não por uma necessidade qualquer, de um destino cego ou do acaso. O mundo foi criado pela vontade livre de Deus, que quis fazer as criaturas participarem do seu ser, da sua sabedoria e da sua bondade. (Ap 4,11; Sl 104, 24; Sl 145, 9).
2. Deus criou um mundo ordenado e bom (Cat 299-300)
Por ter sua origem na bondade de Deus, a criação participa desta bondade (Gen 1,4.10.12.18.21.31);
Deus criou o mundo por amor e sabedoria; desta forma, a criação é ordenada (Sl 11,20), e a ordem da Criação é feita no e através do Verbo Eterno, "imagem do Deus invisível" (Cl 1,15).
Todo o restante da criação visível está destinada, dirigida ao homem, imagem de Deus (Gen 1,26); E este é chamado a uma relação pessoal com Deus, uma relação de respeito diante do Criador e da sua obra;
3 - Deus mantém e sustenta a criação (Cat 301)
Uma das conseqüências imediatas da criação do mundo e do homem é a permanente conservação de ambos por parte de Deus. Em outras palavras: depois de haver dado existência a cada criatura, Deus exerce sobre ela um influxo direto positivo, que sustenta essa criatura e sem o qual ela recairia no nada. Por isto se diz que a conservação das criaturas é uma criação continuada e permanente. A Escritura incute a ação conservadora de Deus, que de certo modo salta aos olhos dos autores bíblicos: Veja Sl 103(104),27-30; Jó 34,14s/Sb 11,24-26/ Cl 1,15-17/ Cl 1,15-17/ Jo 5,17
Ao criar, Deus não abandona a sua criatura a ela mesma. Deus dá o ser e a existência às criaturas, como também as sustenta a todo instante no ser; dá-lhes o dom de agir e as conduz a seu termo. Mesmo quando o homem se volta contra Deus, só o pode fazer porque Deus conserva na sua existência e nele está presente de modo muito especial. É muito importante que toda a criatura reconheça sua dependência em relação ao Criador. Este reconhecimento é uma fonte de Sabedoria e liberdade, alegria e confiança.
Estas proposições implicam, entre outras coisas, que:
a) A Criação apesar de ter a sua bondade e a sua perfeição próprias, não saiu completamente acabada das mãos do Criador, é criada "em estado de caminhada" para seu Fim Supremo ("in statu viae").
b) Deus realiza o seu projeto: a divina providência (Cat 302), que é definida como a ação pela qual Deus se dispõe a levar todas as criaturas para o seu fim devido, sem a destruição da liberdade de arbítrio dos homens. Veja (Sl 115,3; Ap 3,7; Pr 19,21; Is 10,5-15; 45,5-7; 32, 39; Sr 11,14);
4. A Providência Divina (Cat 302-308)
Deus é o mestre soberano dos seus desígnios, mas quer servir-se também do concurso das criaturas para sua realização o que não significa sinal de fraqueza, mas de grandeza e bondade de Deus. Deus dá vida às suas criaturas, como também a dignidade de agirem elas mesmas, de serem causas e princípios umas das outras e de assim cooperarem no cumprimento dos seus planos.
Deus não somente conserva as criaturas na sua existência, mas também lhes dá o auxílio (concurso) necessário para que possam agir. Assim como o homem não não pode perdurar sem o sustento de Deus, não pode agir sem o concurso do Criador. Este é atestado pela Sagrada Escritura, quando diz, por exemplo: "É Deus quem, segundo o seu beneplácito, opera em nós o querer e o realizar " (Fl 2,13; I Cor 12,6; Is 26,12; At 17,28).
O concurso de Deus com a criatura humana dotada de livre arbítrio não é de fácil entendimento. Não significa que Deus produza uma parte e o homem produza outra parte da atividade humana. Positivamente significa que a ação da criatura é subordinada à ação de Deus. Todavia, ao mover as criaturas livres (o ser humano), Deus não lhes retira a liberdade; ao contrário, estimula-lhe o exercício da liberdade.
Deus dá aos homens a graça de participar livremente de sua providência; para isto, confia-lhes a responsabilidade de submeter a terra e de dominá-la (Gên 1,26-28). Os seres humanos são chamados a ser cooperadores de Deus, e agir de modo inteligente e livre para completar a obra da criação, aperfeiçoando-lhe a harmonia para o bem deles e do seu próximo. Para que isto se concretize, é importante que o homem sempre busque em Deus a sabedoria para agir em prol do bem de si próprio e dos seus irmãos.
O homem pode cooperar com Deus tanto desconhecendo a vontade divina, como conhecendo-a, participando deliberadamente, tornando-se, conscientemente cooperador de Deus.
- por suas ações;
- por suas orações;
- pela vivência em Deus de seus sofrimento
Se Deus criou o mundo ordenado e bom, cuida de todas as suas criaturas, por que então o mal existe?
Deus realizou a Criação "em estado de caminhada" rumo à perfeição última. Os anjos e os homens, por serem criaturas inteligentes e livres, devem caminhar para o seu destino último por opção livre e amor preferencial; no entanto, podem desviar-se, como de fato o fizeram. Foi assim que o mal entrou no mundo.
Dito isto, põe-se a questão: a responsabilidade pelo mal produzido pelas criaturas recai sobre Deus?
Em resposta a esta indagação lembremos que o mal moral é sempre causado por um desvio da verdade, do caminho que leva a Deus, Sumo Bem. O mal maior é a ausência, a separação de Deus. O pecado é a falta de harmonia do agir humano com o seu Fim Supremo. Ora, a carência do bem é causada pela criatura, que é capaz de agir inacabadamente ou imperfeitamente. Deus não pode agir imperfeitamente. A Ele não interessa separar-se do homem, a quem ama com amor inabalável. E justamente porque ama o homem, Deus deixa-lhe a oportunidade de ir livremente para Ele. Assim é que o concurso de Deus com a criatura que peca ou procede mal, se compara com a ação de um grande músico que se aplica a um piano defeituoso; a melodia sai falha, todavia não por culpa do pianista (que continua sendo excelente), mas por deficiência do instrumento.
Deus sabe, porém, utilizar até o mal das criaturas, para produzir bens maiores, como observa Santo Agostinho: "Deus onipotente, sendo sumamente bom, não deixaria mal algum em sua obra, se não fosse tão poderoso e bom que pudesse tirar até do mal o bem...". " Ele julgou-lhe melhor tirar dos males o bem permitir que mal algum viesse a existir".
Deus não é, de modo algum, a causa do mal moral (pecado); no entanto, permite-o, respeitando a liberdade da sua criatura. Porém, Deus não deixou o homem no estado em que o mal o deixou, mas misteriosamente tirou o bem do mal.
Santo Agostinho nos ensina: " Pois o Deus Todo-Poderoso..., por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir nas suas obras se não fosse bastante poderoso para fazer ressaltar o bem do próprio mal" (Enchir. 11, 3). Na sua providência todo-poderosa, pode extrair um bem das conseqüências de um mal, mesmo moral, causado pelas suas criaturas.
Deus tirou do maior mal, jamais cometido, que foi a morte de seu próprio Filho, o maior dos bens: a glorificação de Cristo e a nossa Redenção. O mal se converteu em um bem. Ele sempre se antecipou ao homem pelas suas Alianças, pela Encarnação redentora de seu Filho, pelo dom do Espírito, pela consagração da Igreja, pela força dos Sacramentos, pelo chamado à uma vida bem-aventurada, à qual as criaturas livres são convidadas antecipadamente a assentir, mas da qual podem, por um terrível mistério, abrir mão também antecipadamente. Quando virmos Deus "face a face" (I Cor 13,12), acontecerá o fim do nosso conhecimento parcial e teremos o pleno conhecimento dos caminhos, pelos quais, mesmo através dos dramas do mal e do pecado, Deus terá conduzido a sua criação até o descanso definitivo, em vista do qual criou o céu e a terra.
1 comentário:
nuito legall
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